Sinal do tempo

  C068  
Marcelo Silva | Cajamar SP
Estava ontem numa escola a convite de um professor. Enquanto eu o aguardava observava as salas ao passar pelo corredor.

Sala um – Um aluno lidera a ação dispersiva da aula vai até o quadro, pega o giz e com seu corpo faz uma barreira para esconder o que estava escrevendo. Ele empurra o colega e ri, numa grande brincadeira. Uma colega que observa diz alto: "Vai explicar?" A professora, que havia visto o que faziam, mas não havia intervindo, acata a ideia da aluna e diz: "Isso aí, quero ouvir a explicação", e se senta na cadeira de um deles dizendo que é uma aluna no momento.
Um dos meninos fica envergonhado e quer voltar para o fundo da sala; o outro segura o colega pelo braço e começa um novo jogo de empurra e puxa em meio a risadas dos dois. A professora sente a necessidade de intervir e o faz. Vai até a frente, coloca os alunos de lado, passa a ser ela quem dirige a aula com a participação de muitos outros alunos da sala. Quando a atividade começa, eles voltam para suas cadeiras, desconcertados.

Sala dois – Outra aluna levanta-se e vai até a cortina para fechá-la, pois há reflexo no quadro e ela não consegue copiar o texto que o professor escreve. A aula está tão em silêncio que se pode ouvir o barulho de fora da sala, fato raro. Dois meninos, do outro canto da sala, levantam-se para ir também mexer na cortina. O professor põe-se frente a eles e manda que voltem para seus lugares de forma tranquila. Eles insistem e dizem que querem ajudar: “Olha ali, queremos arrumar o que ela não consegue”. Pela forma como justificam e se portam, percebe-se que querem distrair a atenção da turma toda, fazendo-se centro da atenção. Eles insistem por um tempo, o professor se mostrou firme, afirmando sua ordem de que voltassem para seus lugares. O professor vai até a cortina e verifica que está estragada; não há como mexer; está enroscando no varão e o lugar é muito alto, de impossível acesso sem uma escada. Sugere ao aluno que não enxerga no quadro que se sente em outro lugar da classe. Segue passando o texto no quadro e a turma volta a trabalhar.

Todos estão trabalhando, no entanto, o professor não mais escreve onde bate reflexo; escreve do meio para o canto direito, deixando sem texto o local onde os alunos têm dificuldade para enxergar.

Encontrei o professor, conservamos e, ao retornar:

Sala dois – O artigo prescrito na lousa de situações reais para a discussão de aula, partia de questionamentos. O professor perguntava muito para os alunos em aula, provocando-os com questões e situações e parecia deixá-los indignados e inquietos. Demonstrava-se feliz quando eles respondiam dizendo que não pode ser daquele jeito, retomava seu posicionamento e discutia serenamente com os alunos.

Sala um – A professora trabalha com seriedade uma temática que circula nos noticiários e meios de comunicação. Parece que faz isso para desenvolver neles uma postura crítica diante dos fatos que acontecem perto de nós – uma responsabilidade que se deve ter com outras pessoas. E assim foi desenvolvendo o conteúdo da aula, um texto sobre pessoas idosas. Nesta oportunidade eles acabaram falando deles, das suas famílias, da relação que têm com os adultos e tudo mais.

Os desafios em sala de aula são rompidos com o barulho confuso e estridente da campainha em seu ruído ferruginoso, inextinguível e gélido. Começa o intervalo.

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