Conectados e despertados

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Marcelo Silva | Cajamar SP
A primeira pessoa a que vi reclamar da lousa fria, carteiras duras e muros altos foi a professora Maria. Não esqueço seu rosto jovial numa boa simetria, elegante e carinhosa. Dizia que o cenário compunha-se da estrutura arquitetônica do século XIX, num misto de professores do século XX e alunos do século XXI. Lidava bem com essa desarmonia, utilizando dos avanços tecnológicos que ultrapassam os muros e as grades da escola, despertava até os alunos desconectados do mundo físico. Sobretudo com o manuseio da lousa digital. O simples toque do dedo mágico da professora Maria, encantava os quatro cantos da sala de aula.

Os olhinhos acompanhavam a simulação digital, a multimídia ou apresentação no PowerPoint. Uma aula perfeita para os alunos contemporâneos, nem sentiam a dureza da caneta e nem da cadeira muito menos da muralha que os cercava.

A professora Maria dominava mesmo o aparato tecnológico. Na aula, a turma fazia silêncio como antigamente, na época do militarismo. A diferença é que, quando ela adentrava, a interação fluía literalmente; professora e alunos, colegas e alunos numa organização barulhenta, mas respeitosa.

As atividades interativas ocorriam na lousa digital com direito a imagens 3D com som estéreo, tudo mediado pela professora que contava com participação especial dos alunos. No momento em que se dirigiam empolgados a lousa digital. Escreviam nela por meio de um teclado virtual e decidiam se utilizariam uma caneta especial ou com o dedo, já que a lousa lê ambas as formas. A resolução de problemas era feita com gosto, propostas que tinham sentido, eram desafiadoras, proveitosas e resolvidas.

A profissional retomava com facilidade as aulas anteriores como um ponto de partida e inseria novas aprendizagens. Proporcionava um tempo suficiente para fazermos anotações significativas. A clareza da lousa digital ajudava dar luz para realização das atividades. Bastava a professora explicar uma vez e todos entendiam as explicações. Talvez devido à interação promovida e amparada pelos recursos que ganhava trajetos regados de cores, som, movimentos e a doçura da professora Maria.

A felicidade me possuía naquele momento, como quando um medicamento poderoso principia a agir e nos tira uma dor: de não precisar ficar estudando tabuada, achar o máximo divisor comum, decorar datas comemorativas, nomes de montanhas, que nunca escalei nome de mares que nunca naveguei, copiar textos longos que nunca li.

Assim ficou impressão digital dessa professora, pois ela nunca soube onde cessou sua influência, mas cutucou minha alma a ponto de pensar que estava apaixonado. Seu olhar meigo, voz baixa e macia; tornou-me numa alma conectada e despertada.

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