Filho no comando

  C065  
Albedo | Divinópolis MG
Ao amanhecer do meu primeiro dia de férias daquele ano, acordei com os gritos:

— Levanta, meu bem! Hoje eu viajo a negócios! É você quem cuida dos meninos! A empregada está de folga!

Fiquei ali entre aquelas palavras e meus sonhos. A porta do quarto fechou-se e logo eu revirei na cama, caindo no sono novamente.

— Papai, papai, acorde! Já é meio-dia!

— O que foi, meu bem?

— Não, papai! Não é a mamãe! Sou eu! Estou com fome!

— Ah?!

— Sou eu papai! É hora do almoço! Estou com fome!

Ao ouvir a palavra “almoço”, levantei-me num pulo só! Eu também estava com fome.

— Onde estão seus irmãos, meu filho?

— O Marcelo foi para o clube jogar futebol!

— Onde está a Márcia?

— Foi ao shopping com as amigas. E eu estou aqui... Com fome!

“Ai, ai... O Marcelo matou aula de inglês para jogar futebol. A Márcia está no shopping, na certa perderá a hora da escola! O que eu vou dizer para minha esposa quando ela voltar?” – pensei.

Peguei na mão do Marcos e levei-o até a cozinha.

— Vamos, filho, papai vai fazer café!

— Mas, papai, já está na hora do almoço!

— Hoje a gente almoça mais tarde, certo?

— “Tá bom”! Mas o que vamos comer agora?

Coloquei a torrada na torradeira, o leite para ferver e saí para escovar os dentes. Quando retornei, lá estavam as torradas, completamente tostadas; digo: queimadas mesmo! O leite fervera e sujara todo o fogão! Um verdadeiro desastre culinário!

— Meu filho, mudei de planos! Vamos comer pizza. O que acha?

— Oba! Adoro pizza, papai!

Liguei para pizzaria e fomos ver tv enquanto esperávamos o entregador.

Depois da pizza, com a barriga cheia e novamente em frente à tv, lembrei-me de que deveria ligar para os danadinhos fugitivos.
O celular do Marcelo tocou ali mesmo, bem na mesa da sala! O da Márcia deu caixa postal.

“Que filhos são esses que não se lembram de dar satisfações para os pais?!” - pensei, mais preocupado é com o que eu diria à minha esposa quando ela chegasse.

— Papai, quero muito sorvete

— Você não pode, está gripado!

— Mas, papai... Eu quero!

— Sua mãe me mata se eu der sorvete para você.

— Papai...

— Hum...

— Ela vai matar você quando souber que meus irmãos faltaram de aula e você nem sabia onde eles estavam...

— É mesmo! Mas ela não precisa saber... Não é?!

— É. Se eu ganhar sorvete...

— Ora, filho!

— Se eu ganhar sorvete eu não conto.

— Tá bom! O papai vai pegar sorvete para você.

— Oba!

— Só um pouquinho.

— Não! Quero muito!

— Muito não pode!

— Quero muito! Se for muito eu não conto.

— “Tá bom”! “Tá bom”! Vou buscar muito.

No final da tarde, Marcelo chegou todo suado e passou logo para o chuveiro sem dar tempo para ouvir um interrogatório.

Minutos depois, chegou a Márcia contando um caso atrás do outro, enchendo-me de perguntas como se eu é quem tivesse que dar explicações!

Por fim, chegou a rainha da casa:

— E aí, meus amores? Como foi o dia?

Neste exato momento, Marcelo saíra do banho e juntara-se aos irmãos que recebiam a mamãe com beijos e abraços. E em uníssono, como se os três tivessem ensaiado, respondem à pergunta da mamãe.

— Tivemos um dia super feliz! É maravilhoso passar o dia com o papai!

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