Rotina Noturna

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Joseph Khalil | Corrente PI
Quando chegou a energia elétrica no meu interior, a televisão já tinha se instalado em algumas casas. A eletricidade vinha através de motores a óleo e em algumas moradias utilizava painel solar. A casa do meu padrinho - Erotides Alves - fica mais de 200 metros da minha residência e lá na época tinha televisão de tubo, quando ligava o motor eu corria para lá. Era rotina assistir as novelas a noite. Como na minha casa não tínhamos esse recurso. Nós ligávamos nossas lanternas e íamos sorridente para mais um episódio das tramas.

Era só eu descer da van escolar; tomar banho e preparar para mais uma rotina noturna. As vezes minha família ia embora mais cedo e eu ficava assistindo as novelas. E a volta para casa no escuro? Idealizei na minha mente para não temer o mal e caminhar tranquilamente, quando um galho quebrava, não tinha jeito, era “pernas para quem te quero”. Nessas rotinas fui picado pelo um escorpião e perdi o resto da noite com a insônia; passei frio; e eu, somente eu, vi um balão no céu ou era um satélite em chamas?

Minha memória ainda guarda minha infância, revelá-las é ter orgulho da vida. Era saboroso assistir as telenovelas acompanhado de um café quente com bolo voador servido por minha tia. Me encantei com a novela “Cordel Encantado” e o sucesso de “Avenida Brasil”. Meus primos reconheciam meu talento de adivinhar os desfechos das novelas e eu acertava sempre. O motor ao fundo fazendo bastante barulho – meu tio colocava uma grande força para ligá-lo- e nós com os olhos vidrados na tv. Tenho grande apreço pelo Jornalismo e sempre assistia pois era o único contato que tinha com a globalização/informação.

Quando não se tinha óleo para ligar o motor, eu pegava a bicicleta e ia compra-lo. Era inadmissível perder um capitulo. Depois das novelas, desligava o gerador de energia e juntávamos os primos para brincarmos ou conversar e contar histórias. Alguns parentes me amedrontavam que viram um lobisomem na pista, mas eu voltava para casa realizado por ter assistido as dramaturgias e pensador nas próximas tramas.

Hoje minha casa tem televisão. Claro que perdeu o encanto dos laços entre as famílias. Ninguém caminha a noite para assistir TV em outra casa. Mas temos eletricidade para o dia todo, água gelada, celular carregado, etc. Os candeeiros desapareceram, assim como as visitas noturnas para assistir novelas a luz de motor. Doces tempos em que ao voltar para casa eu admirava a beleza da lua e o brilho das estrelas.

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