O velho, o rato e o alçapão

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Athelstan | Adamantina SP
Em determinadas épocas do ano era comum o aparecimento de ratos na casa do meu avô. Por ser uma casa de madeira da década de 1950, não era muito difícil os roedores acharem algum espaço para se esconderem. As perdas eram diversas, nada passava despercebido ao olhar dos bichinhos, chegavam a roer até mesmo as latas onde se guardavam os alimentos.

Religiosamente o velho armava as suas ratoeiras. Em todo e qualquer lugar havia uma, embaixo da cama, do armário, da geladeira, do fogão, mas de nada adiantava. Até parecia que os ratos eram ensinados.

Até que um dia, o velho se cansou e encomendou a um amigo o fabrico de um alçapão. Dizia ele que o rato era muito grande para as ratoeiras que eram armadas e o alçapão pegaria o roedor.

Em poucas semanas o alçapão estava pronto. Testou daqui, testou dali, armou, desarmou e em meio a todos esses procedimentos, o mais engraçado era ver a cara de empenho do vovô em pegar os ratos o quanto antes.

— A noite nós pegamos o bicho! — Exclamava em um tom desafiador.

Antes de dormir, ele passou a mão naquela geringonça e começou todo aquele procedimento para poder armá-la. Mas, assim como qualquer armadilha, o alçapão também necessitava de uma isca para poder atrair a presa. Sem nada de queijo por perto naquele dia, ele acabou colocando um pedaço razoável de um pão caseiro que estava no fogão. Pronto, agora era só aguardar a manhã seguinte para ver o resultado.

No meio da madrugada ouviu-se o disparar do alçapão, mas ninguém se levantou, afinal a ideia era pegar o roedor morto e não agonizando. Até o amanhecer, não se ouviu mais nenhum barulho.

Logo de manhã, o velho foi logo levantando animado. Ligou o rádio, foi ao banheiro e sentou-se à espera do café que vovó estava fazendo.

— Não vai ver o rato? — Perguntou a vovó.

— Daqui a pouco! Deixa ele morrer bem! — Dizia ele, já com o copo americano de café nas mãos.

Café tomado, era a hora de encontrar o cadáver do seu inimigo mais próximo. Puxou o alçapão que estava debaixo do armário e o sacudiu.

— O bicho está aqui! Olha o barulho! — Sacudindo cada vez mais forte a engenhoca.

— Toma cuidado! Vai que ele te morde! — Dizia preocupada a vovó.

— Ele já deve ter morrido! Infeliz! — Sacudindo ainda mais a armadilha.

— Enfia um espeto nele! Vai que ele não morreu ainda!

— Tá... Pega aquele ferro pontudo pra mim!

Através de uma pequena abertura o velho enfiou o espeto pelo alçapão, em poucos centímetros atingiu algo. Com tamanha raiva ele forçou ainda mais, até perfurá-lo.

— Agora matei o bicho! — Torcendo o ferro para lá e para cá.

Em instantes ele começava a desprender a tranca do alçapão. Ao cair no chão, lá estava o pedaço de pão, com um dos lados roídos pelo bicho, mas rato que é bom... Nada!

— Ah... infeliz! Amanhã eu te pego! — Dizia o velho desapontado pela perda.

O curioso é que desde este dia o roedor nunca mais apareceu e o vovô sempre que podia, contava esta história, afirmando que o rato tinha sumido porque se assustou com o alçapão.

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