O rojão desaparecido

  C028  
Athelstan | Adamantina SP
Seria mais uma simples e pacata manhã do outubro de 1998, em Adamantina, se não fosse o feriado nacional prolongado e as festividades em comemoração ao dia de Nossa Senhora Aparecida.

Em cidades interioranas é bem comum a soltura de rojões em culto ou homenagem a algum santo. E meus avós e quase toda a vizinhança do bairro onde morávamos, faziam parte desse grupo que homenageavam Nossa Senhora de Aparecida. Dizia meu avô que fazia isso todos os anos em cumprimento de uma promessa, da qual havia sido atendido.

Um dia antes, no domingo, ele havia me pedido para que comprasse um rojão na mercearia ao lado. Prontamente atendi ao pedido e comprei a tal caixa de rojões, que por sinal me lembro até da marca, “Caramuru”. Por sua vez, como de costume, ele já havia separado um alicate e alguns pequenos pedaços de arame, para amarrar os rojões na cerca de madeira que ficava em frente à casa.

No dia da soltura dos fogos, meu avô como sempre fazia, acordou cedo e logo tratou de amarrar os rojões na cerca. Minha avó dizia que, ele passou a fazer isso depois que rojão caiu em seu pé. Para minha surpresa, quando acordei, vi que haviam apenas dois rojões e não três amarrados. Mas, logo veio a queixa do velho, dizendo que iria reclamar com o dono da mercearia, devido a falta do rojão e que isso era um roubo. Acabei dando de ombros, afinal os adultos eram eles naquela ocasião. E dá-lhe rojão! Foi pipoco para todo e qualquer lado! Mas, segundo a tradição local, só durava até o meio-dia, em seguida vinha o almoço em família.

Todos os dias, a tardezinha, meu avô tinha o costume de acender o seu fogão à lenha, onde preparava seu jantar e suas especiarias. Mas, para acendê-lo todos sabem que dá um certo trabalho, daí a necessidade de se usar madeiras menores, galhos e papéis. Sim, papéis! E nesse dia não foi diferente, apenas com um adendo, a caixa de fogos estava em meio aos papéis que iam para o fogo.

Devido ao avançar da idade, ele não havia olhado direito dentro da caixa, e o rojão desaparecido lá estava. Em poucos minutos presenciamos o som ensurdecedor de um rojão de três tiros estourar dentro de casa. Minha avó de um lado, achando que os bandidos haviam invadido a casa, eu correndo para rua, vizinhos curiosos olhando pelas janelas e meu avô assustado, olhando a bagunça toda com a mão no batente da porta que dava para o fogão à lenha, dizendo que havia achado o rojão desaparecido.

Blogger | Mod. Ourblogtemplates.com (2008) | Adaptado e editado por Flávio Flora (2018)

Voltar