Modesta versus cego e surdo (mas com bom olfato)

  C016  
Setenta Vai | Ponta Grossa PR
Perdoem-me minhas amigas, mas tenho que me gabar: marido bom está lá em casa.

Fica até chato eu ficar elogiando no Facebook, no Whatsapp, mas hoje ele elevou grandemente minha autoestima, e não posso deixar de compartilhar minha grande sorte por ser casada com essa preciosidade, que vocês bem conhecem.

Já havia me provado que me enxerga magra. Foi assim: no ano passado, fez uma palestra para uma galera numa escola, e deram para ele uma linda camiseta M com estampa do projeto que ele foi prestigiar com sua presença. Adivinhem o que ele fez logo que chegou em casa?

— Todos adoraram, e me deram até esta camiseta, que vai servir direitinho em você, amor.

Não ficou tão bem, na verdade nem entrou em mim. Mas guardei com carinho aquela afável prova.

Outro dia, quando fiz design de sobrancelhas e colori os cabelos, e perguntei se tinha gostado, percebi que me enxerga linda:

— Estava muito melhor antes, querida

Que melhor qualidade alguém pode querer no marido do que ele provar que aprecia sua beleza natural?

Mas hoje..., hoje foi o máximo. Vou ter que dar alguns detalhes técnicos, porque são importantes para que possam compreender o que exatamente elevou minha autoestima:

Meu chuveiro (não vou dizer a marca para não suscitar inveja) tem uma regulagem de frio para quente com uma precisão incrível. Porém, estando instalado numa altura além do alcance dos meus 1,58m, eis que uma haste pode ser acoplada ao botão do controle de temperatura, com uma simplicidade e eficiência de última geração.

Entretanto, o que eu vejo dentro do saco de recicláveis, quando estava para fechá-lo e entregá-lo para coleta? A importantíssima haste do controle de temperatura do meu magnífico chuveiro!

Blá, blá, blá... – entrei eu histérica pela sala, onde meu adorável esposo "dormia um faroeste", ameaçando demitir a diarista sem amor pela vida que jogou no lixo aquela preciosa extensão do meu braço, quando tomo banho.

O coitado acordou do cochilo sem entender bulhufas.

— O que é isso, mulher de Deus! De novo fazendo alarde por nada?

— Olha o que eu achei no lixo!!!! Como que a @#%*## da diarista se atreve a jogar fora, sem me consultar, uma peça do meu chuveiro?

— Mas, "benhe", é uma peça inútil, ninguém aqui precisa disso, uma bobagem. — Então foi você que jogou fora, não é?

— Sim, fui eu. É uma porcaria inútil. Calma, bem.

Estão pensando que sabem o que eu fiz, depois disso, não é?

Mas, não. Por mais que minha autoestima tenha-se elevado com essa linda prova de que meu esposinho me enxerga alta, eu não devolvi a haste ao lixo. Como é que eu iria regular a temperatura do banho? E, por mais que ele tenha essa capacidade incrível de me enxergar do melhor jeito possível, ficar sem tomar banho não iria me render elogios.

A menos que ele tenha o olfato tão ruim quanto tem a audição, porque me ouvir, ele nunca ouve. Eu sempre tenho que ficar me justificando: "mas eu falei isso pra você", quando ele me acusa de não ter avisado disso ou daquilo.

 Mas, agora podem ficar com inveja. Minha modéstia não permitirá que eu me abale com isso.

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