Eterno enquanto dure

  C056  
Tatoo | Brasília DF
Dia desses, precisei ir ao caixa de um banco. Caixa humano, à moda antiga, não desses eletrônicos. Há anos não fazia isso. Depois das facilidades tecnológicas, raramente vou a uma agência bancária. Na ocasião, infelizmente, eu não carregava comigo nenhum livro para me distrair enquanto aguardava o painel chamar por minha senha.

Resolvi “passear” pelas redes sociais no aparelho celular. Olhava rapidamente as postagens dos “amigos”, ignorava vídeos para evitar gemidos e outras armadilhas que circulavam pela internet.

Para meu desprazer, a fila custava a diminuir, graças a algumas pessoas temerosas de pagar seus boletos nos caixas eletrônicos ou pelos sites que as instituições bancárias criaram, a fim de facilitar nossa vida. Restava-me alternar meu olhar do painel das senhas para a tela do celular e vice-versa.

Minha atenção foi atraída por determinada postagem, de uma conhecida chamada Débora, que conheci ao lado de seu parceiro, Jairo, em uma viagem que fiz a Aracaju, aproveitando uns dias de folga de meu trabalho. As poucas mesas vazias no restaurante do hotel, durante o café da manhã, obrigaram o casal a pedir licença para se sentar à que eu estava. “À vontade” – respondi. Poucos minutos de conversa e descobrimos gostos semelhantes. Passeamos juntos, apesar de minha relutância em desempenhar o papel de “vela”. Foi um diferencial agradável naquela curta viagem.

Confesso que admirei a ousada atitude de Jairo, que tatuou “Débora, amor eterno” no tórax, em letras garrafais. Pensei cá com meus botões: “ele é doido!”.

Esgotado meu estoque de dias de folga, retornei à minha cidade; à vida cotidiana. Eles ainda prolongariam a viagem, pois intentavam conhecer outras cidades próximas àquela.

Poucos contatos com esse casal ocorreram depois disso. Sabia deles e eles de mim por meio de postagens nas redes sociais, que, aliás, há tempos eu não acessava. Uma vez que a fila não diminuía mesmo, resolvi consultar as páginas deles. Para minha surpresa, ambos publicaram fotos e comentários com novos parceiros, cada um afirmando ser o grande amor de suas vidas.

Em uma postagem do dia, a que me fez lembrar de Jairo e Débora, esta escreveu: “Que susto! O Facebook desenterrou uns demônios. Corri logo e apaguei!”. Depois de constatar que, como se diz atualmente “a fila andou” no que se refere aos relacionamentos amorosos de ambos, imaginei ser Jairo o “demônio” ressurgido das cinzas a quem Débora se referiu, pois, se bem me recordo era o dia em que eles iniciaram o namoro, anos antes.

Não há menção por nenhum dos dois das razões que levaram ao fim aquele romance, que eu até suspeitei duradouro.

Pouco antes de chegar a minha vez de ser atendido pelo caixa do banco, eu ainda pude pensar o quanto de trabalho foi necessário a Jairo para retirar a referência à Débora da tatuagem torácica. O trecho “amor eterno”, acredito, é reciclável.

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