Cinco vezes o oito numa sexta treze

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Nídia | Martinópolis SP
Já ouvi dizer de gente paranoica com o vinte e três. Não é meu caso. O meu é com o oito. Começou quando me deparei cinco vezes com ele num só dia. Deu no que deu. Acabei com uma dessas manias de somar números. Embora às vezes pareça coisa de gente doida, prefiro pensar que isso não passe de uma inocente distração. Bem, vamos aos números, digo, aos fatos...

Mal adentrei o banco e já dei de cara com uma daquelas filas elásticas. Dessas que não andam, espicham. Peguei a senha e lá fui enfrentar minha sina. Esperei, esperei, esperei... A perder as contas do próprio tempo. Mata-lo não seria uma má ideia. Antes, porém, estrangulou-me o desânimo. Revido fazendo caras de simpatia aos demais que também aguardavam na fila. Não deu. Ninguém topou a brincadeira de devolver meu consignado sorriso amarelo, tanto mais estabelecer comunicação olho a olho. Talvez fossem poupadores de conversa fiada. Desisti. Definitivamente, fazer amigos em um banco não é um bom negócio. Além do mais, a última vez que troquei sorrisos com o gerente, acabei pagando altos juros. Juro. Não entro mais nessa.

Sem mais opções de investimentos em fundos de amizade, mas querendo ainda matar o tempo, arrisco agora noutra forma de distração: apreciar a paisagem, ou melhor, a arte falsa dos folders pendurados e espalhados pelas brancas paredes bancárias, com aqueles modelos impecáveis de famílias felizes e jovens bem sucedidos. Não deu. Agora caí no enfado. O jeito foi apelar para a inventividade sapiens inata. E já que o lance ali eram números...

Comecei somando os dois dígitos da minha senha, vinte e seis. Logo, dois e seis, oito. Data: treze-do-um-do-doze. Igual a: oito. Horas da impressão da senha: dez e quarenta e três. Oito, claro. Muita coincidência? Achei foi pouca. Queria mais. Celular. Wi-Fi. Google. Buscando pelo meu número... Aquele, segundo a numerologia. Pumba! Oito. Fascinada com aquela numerada toda, desliguei-me completamente do tempo. E eu querendo mata-lo momentos antes. E não é que a fila havia andado? Percebi quando o vinte e seis piscou, luminoso, no caixa um, ou melhor, único. Senão seria oito. Não duvido.

Volto para a casa. Dia cheio, cansaço, fome doida de comer besteiras. No armário, um saco de biscoitos de vento dando sopa, distração perfeita. Esparramada no sofá, entre mordidas e farelos, eis que me vem a derradeira surpresa: um biscoito em forma de oito. Ou seria um oito em forma de biscoito? Quase não acreditei no que meus olhos estavam vendo. Só podia ser um sinal! O que queria dizer eu nunca soube. Afinal, era sexta treze.

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