Segredo entre quatro paredes

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Bandolim | Rio de Janeiro RJ
Jane e Oscar já tinham completado um ano de namoro e eram muito felizes, pois manifestavam um entendimento invulgar e um sentimento de carinho mútuo, que todos diziam se tratar de um caso de amor perfeito ou em outras palavras, um exemplo de casal.

É lógico que o casamento estava nos seus planos, mas para o próximo ano, pois alguns objetivos, principalmente a compra de um imóvel era um dos itens que estava em primeiro lugar na lista de prioridades.

Mas, um fato imprevisto ocorreu na vida do Oscar, cujo conteúdo representava sem dúvida um dos principais objetivos da sua carreira profissional, que ele buscava incessantemente, desde a sua admissão na Empresa. O seu telefone tocou e era a Secretária do Sr. Stevenson – Presidente da Empresa, pedindo o comparecimento ao seu gabinete.

O susto foi grande e vários pensamentos em segundos passaram na mente do Oscar. E ele se perguntava: “O que será que eu fiz?” “Será que cometi alguma falta grave?” “Será a minha demissão?”

Todas as reflexões eram negativas e ele não fazia a mínima ideia do que estava por vir. Respirou fundo, tomou coragem e sussurrou consigo mesmo: “Seja o que Deus quiser!”

Em seguida se encaminhou ao encontro do Presidente e lá chegando todo o mistério foi esclarecido. Era uma proposta de promoção e o Oscar estava sendo indicado para assumir o Cargo de Gerente na Unidade de Estocolmo na Suécia e tinha uma semana para dar a resposta.

Indubitavelmente era uma oportunidade que acontecia uma vez na vida e de forma alguma poderia ser descartada. Estava diante dos seus olhos, além da independência financeira, a conquista de uma posição no ponto mais alto da pirâmide da Empresa, e afinal estava se materializando um dos grandes sonhos da sua vida

O cérebro do Oscar se transformou num verdadeiro turbilhão com vários pensamentos desencontrados sem, no entanto encontrar respostas práticas para os questionamentos, sobretudo no que se referia ao relacionamento com a Jane.

Procurou imediatamente sua noiva e na ocasião foram ponderados todos os prós e contras, principalmente a grande mexida que ocorreria no cotidiano de ambos. Finalmente, tudo foi decidido favoravelmente em poucas semanas. O “Sim” foi formalizado ao Sr. Stevenson e, de imediato, foi providenciado o casamento, com a “lua de mel” sendo realizada em Estocolmo.

A vida transcorria normalmente, tanto na rotina conjugal quanto no âmbito profissional, quando numa manhã de verão o casal acordou com o choro de uma criança, que parecia se tratar de um recém-nascido. Era um lamento triste sem intervalo, que aos poucos foi crescendo e imediatamente, a Jane e o Oscar ainda com as roupas de dormir, foram ao local para averiguar o que estava acontecendo. Quando chegaram ao portão da residência depararam com um bebê do sexo feminino, deitado em uma cesta de vime e envolto num cobertor.

A criança aparentava não ter completado ainda uma semana de vida e imediatamente foram providenciados os primeiros cuidados necessários à sua saúde, e em seguida foram chamadas as autoridades competentes, as quais logo ativaram todos os passos no que se refere aos requisitos legais. A procura dos verdadeiros pais foi uma das prioridades, mas todas as tentativas foram em vão e o bebê foi encaminhado ao Orfanato do Estado.

Embora a criança tenha ficado pouco tempo sob os cuidados da Jane e do Oscar, foi estabelecido um vínculo maternal e paternal, que crescia numa progressão imensurável, pois as visitas ao Orfanato eram realizadas diariamente e a adoção foi formalizada em pouco tempo.

A menina foi registrada com o nome de Luiza e foi criada com o amor de uma filha verdadeira. Posteriormente, a família cresceu com a vinda de mais dois filhos do sexo masculino, Joseph e Mozart.

Um pacto entre o casal foi firmado sobre a Luiza, ou seja, nunca seria divulgada a verdade sobre seus pais naturais, para que não houvesse qualquer vazamento, cujos boatos colocassem em risco a unidade familiar. Para todos os amigos, parentes e demais entes próximos, a família era composta pelo Oscar, Jane e os três filhos, versão que foi mantida até os tempos atuais.

Os anos foram passando e com a aposentadoria do Oscar a família retornou ao Brasil. A Luiza era dotada de pele branca, olhos azuis e cabelos louros, bem ao estilo nórdico, enquanto os seus irmãos apresentavam tipos genuinamente brasileiros, com a pele morena, cabelos e olhos negros.

Luiza que estava completando 21 anos, sempre comentava com seus pais sobre a opinião dos seus amigos a respeito da diferença fisionômica com seus irmãos, que realmente era visível, motivo pelo qual chamava a atenção e esse tema passou a ser questionado por ela com mais frequência.

Essa situação passou a ser motivo de preocupação do casal, pois caso a curiosidade da Luiza chegasse ao extremo, a verdade poderia ser descoberta através de um exame de DNA.

Depois de algumas noites em claro o Oscar e a Jane, decidiram falar toda verdade. Chamaram a Luiza o Joseph e o Mozart para uma reunião em família e contaram a versão real.

Nos primeiros dias, tudo parecia normal, mas com o correr do tempo foram notados desentendimentos entre os irmãos, que tomaram dimensões incontroláveis com discussões infundadas, extrapolando totalmente o controle do casal. Essas ocorrências culminaram com o rompimento da Luiza, Joseph e o Mozart, e ela decidiu morar sozinha num apartamento, totalmente independente, não procurando mais a família.

Constata-se no presente episódio, que a quebra de um segredo, cujo pacto era mantido há décadas, trouxe consequências desastrosas, inclusive com a “implosão” de uma família, que era um modelo e servia de exemplo para comunidade.

Estamos diante de uma lição de vida, porquanto o ditado popular é sábio e rico em ensinamentos. O provérbio indiano diz: “Um segredo é pouco para um, suficiente para dois e demais para três”.

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