Crônica da redundância

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M C Machado | Curitiba PR
Chego atrasada pra aula de dança na academia que frequento há mais de dez anos. Vejo um lugar vazio no canto onde costumo ficar. Corro, já no ritmo da música, pra ocupar o espaço. Não entendo a expressão contrariada de uma amiga quando passo por ela, a caminho da minha marcação.

Cumprimento uma aluna desconhecida no meu lado esquerdo. Surpresa com a animação dela, torço pra que aqueles braços expansivos não me acertem o olho, enquanto tento dançar a coreografia já decorada pelo meu corpo.

Estranho a animação exagerada, talvez pra compensar a falta de gingado. A garota saca o celular e começa a filmar tudo. Tudo mesmo: a professora dançando lindamente lá na frente, uma panorâmica da sala, eu de costas porque não to lá pra fazer pano de fundo pra selfie dela.

Ela enfia o rosto superexcitado em frente à câmera e registra seu sorriso-comercial-de-creme-dental, seu cabelo com raízes escuras implorando por descoloramento, sua falta de cintura e sua bunda magra dentro de uma legging personalizada com seu nome em letras enormes, descendo até as canelas.

De onde saiu essa mulher? No final da música a professora explica: é uma blogueira nada-famosa que veio nos dar a honra de atrapalhar a nossa aula, tão divertida normalmente. Blogueira, ególatra, superficial e sem noção. Redundante. Tão batido quanto a falta de foco e de comprometimento da geração Y, tão irritante quanto. Deixo a sala antes da aula terminar.

Blogger | Mod. Ourblogtemplates.com (2008) | Adaptado e editado por Flávio Flora (2018)

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