Água de Coco

  C076  
Natylla Lucy | Uberaba MG
Ele observara a mulher se aproximando, que com ternura sentou-se ao seu lado. Trajava vestes simples que ficavam muitos elegantes em suas curvas finas. Envergonhado, o homem tirou o olhar da moça e fixou sua visão na atendente daquela barraquinha de água de coco.

Com elegância, tentou inibir movimentos que não parecessem deselegantes perto de tal mulher, passando assim uma impressão de bom homem.

A moça sequer o reparava. Parecia mais ocupar sua atenção com os preços destacados no fundo da barraca. Então, logo viera aquele perfume de outro mundo atiçar os hormônios do homem fazendo o mesmo sentir-se curioso.

Na tentativa de lhe chamar a atenção, o homem pensou em algo para falar e começar um diálogo com a bela senhora:

— Mas que atendentes incompetentes! Como ousam deixar uma senhorita de tamanha beleza igual a você esperando por uma mísera água de coco!

— Fique calmo moço! Não estou com pressa! Tampouco quero fazer pressão nessas pobres atendentes! Aliás, estou decidida a optar por chegar tarde a casa hoje — respondeu a moça com tamanha delicadeza, tendo em mente lembranças ruins que passara ao longo daquele dia.

Surpreso com a surpreendente resposta, o homem ainda tentou continuar naquele mesmo assunto:

— Ora! Se me permite perguntar o porquê de uma criatura de tal perfeição como você optar por chegar tarde a casa? Pois não aparenta ser uma mulher que goste de virar noites longe de sua família e do aconchego familiar.

— Não se trata de virar noites meu caro! Apenas sinto que não estou bem para chegar à minha casa e ter de lidar com perguntas de como foi meu dia, que, aliás, esta sendo horrível.

Ela na expectativa de que achara alguém para finalmente escutar suas tantas desilusões continuou:

— Ainda ontem alguém que me prometeu o céu, tirou o meu chão!

O rapaz com certa irracionalidade tentara decifrar o enigma que a mulher lhe propunha, sem muito esforço, sacou rapidamente a charada:

— Pois chuto que você então passara ontem mesmo por um fim de relacionamento! Confirma minha teoria?

Admirada com tamanha sabedoria, ela passou a enxergar o homem além de um simples curioso.

— Confirmo sim moço! E digo mais, o infeliz já está todo pimpão com outra, hoje mesmo fui ao trabalho com a alma sangrando, nem mesmo situei diálogos com meus companheiros de equipe. Não levo meus problemas para quem gosta de ver minha desgraça.

— Tem toda a razão minha senhora! Essa semana estive em uma confraternização que o meu chefe fez para comemorar vinte anos de sua empresa. Em meio a tanta solenidade acabei dando vexame, vacilei e exagerei um pouco no álcool, ainda assim um sem coração tirara-me do sério. Não deu outra, agora estou no olho da rua na pindaíba. O dono de meu imóvel manda a todo o momento ameaças de me expulsar. Confirmo o que você disse! As pessoas adoram ver nossa desgraça! — ele completou, recuando o olhar dela.

— Suas desilusões se parecem com as minhas, eu mesma dividia um apartamento com aquele ingênuo, agora voltei às origens, novamente implorando colo e consolo na casa de minha mãe — Ela se revolta e bate de leve a mão na bancada. O moço sorriu como há bastante tempo não sorria.

— Com toda a certeza moça, só posso lhe garantir algo que não existe mais certo, estamos no fundo do poço! — Logo ambos riram, riram muito. Pareciam duas crianças rindo das próprias falhas, o mundo desabava para eles naquela barraquinha de água de coco, mas riam.

— Escute só meu caro, estamos rindo de tristeza! Viva a ironia! — Ela fala balbuciando as palavras enquanto se debatia nas gargalhada. Depois de tantos e inevitáveis sorrisos eufóricos finalmente ambos conseguiram se controlar.

— Pois bem, não me lembro de ter perguntado para você se está esperando por alguém aqui. Talvez esteja esperando por algum conhecido, ou coisa do tipo?! — Ela continuou enquanto desdobrava um lenço de papel para limpar lágrimas, o que era resultado de tamanha euforia.

— Boa pergunta minha cara! Esperei você minha vida toda! — Ele respondeu.

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