Síntese das Crônicas


Por breve análise de conteúdo, agrupado por aspectos recorrentes, obteve-se uma síntese dos textos apresentados à categoria

As crônicas sobre pessoas predominam neste certame, destacando figuras incríveis de pais ausentes, de loucos à procura da perfeição, da menina em dificuldades na escola incompreensível, os ajustes de tradições e costumes alimentares entre familiares, o casal, o retrato do boiadeiro saudoso e os meninos, um, paraplégico que descobriu suas asas na escrita, outro, que descobriu o êxtase sensual. A custosa celebridade e suas contrariedades, a musa de biquíni sobre a areia da praia, a existência de pessoas solidárias e gentis, filtrada nas névoas do tempo, como a inesquecível amiga do trabalho, também estão presentes.

Sobre coisas do cotidiano, os cronistas focalizam um cover-show dos Beatles, em Belém (Portugal), as complicações de uma viagem de trem, uma carta de arrependimento por difamação, a importância do cerimonial e o prêmio aos vencedores, o caso do filho que se aproveita do medo do pai. Nesta coletânea, incluem-se também o velório revelador de uma traição, dez minutos de caminhada por rua esburacada, o surgimento de palavrões no dia a dia, o desempregado que entrou de férias dos acontecimentos mundiais, os elementos cármicos que determinam a morte, a pobreza e a felicidade. Presentes ainda os sertanejos em suas rotinas, a solidão na multidão da praça e o educativo atendimento de um restaurante.

Nas crônicas, as memórias assumem lugar de destaque entre os escritos, voltados para objetos e episódios da infância, o teatro realista na escola, do belo professor que não falava muito para não errar, o livro esquecido no banco do jardim, a história trágica do bebê abandonado à porta da casa. Os textos registram mais lembranças, como a viagem turística a São Paulo, a recordação doce e amarga de adoção que não se concretizou, o apagar de um raio de sol, os primeiros tempos da televisão, do tragicômico rojão perdido no meio da lenha do fogão, o engraxate e o contador de histórias, o silêncio noturno das ruas, as férias escolares, sentimentos camuflados numa carta e os devaneios de um homem comum.

São vários os motivos para reflexão trazidos pelos participantes do Segundo Varal: os três moradores da casa da harmonia, o segredo da imortalidade, o espelho da eternidade, o carinho de uma argentina pela língua brasileiro-portuquesa, o lidar com a ilusão, a verdade, e as reimpressões, meditação de um jovem evolando-se na fumaça do cigarro, a máscara reveladora do ser interior, o amor entristecedor, o significado de ‘Por quem os sinos dobram’. Nesta coletânea, inlcuem-se a reparação dos cacos humanos com ouro dos sonhos, os riscos e incertezas do viver e o difícil sucesso do escritor.

Na categoria de crônicas, a crítica social evidencia o preconceito da homossexualidade, a prevalência do ‘smartphone’ sobre os contatos pessoais, a situação dos sem-abrigo e excluídos da sociedade, a honestidade por um fio de bigode, a sintonia e liberdade da escola contemporânea, a política comparada às carnes de um açougue, a seleção discriminatória de um restaurante, a visão distorcida sobre o Sul do Brasil, as precárias calçadas curitibanas e o esbanjamento do poder público.

O ato de escrever também se destaca entre os temas mais comentados, evidenciando a necessidade de se ter um baú de idéias para suprir a falta de inspiração, a liberdade da escrita é a realização do autor e o olhar inspirado nas coisas do mundo comum.

Outro tema que se destaca entre os cronistas é o da religiosidade, que remete ao divino transcendente e atemporal, às fontes de energia ascensional e de milagres, o espelho sobrenatural de Iemanjá, o inominável ser sagrado, a fé religiosa, mecanização e os abusos da religião colocados para refletir.

Crônicas que falam de romances fazem número neste certame de sensibilidades com destaque para um encontro de precariedades humanas convertidas em riso e comprometimento, a meninda que amava a dona do espetinho da esquina, a tentativa inútil de refazer o amor desfeito, a temporalidade do amor tatuado, uma teatral demonstração de amor e a busca de alguém no abismo da vida.

Os autores escreveram também sobre animais, com destaque para os ratos: um, que ‘causou’ uma grande confusão na casa; outro, que passou momentos assustadores sob bombardeiros na guerra da Síria e, outro ainda, que se assustou com o alçapão e nunca mais voltou. Os gatos também têm espaço na mente dos cronistas: o gato que foi embora na manhã de Natal e os gatos educados e charmosos da vizinha.

De esporte também se escreve, a começar dos belos dribles, bonitas jogadas e nobres projetos nacionais misturados na derrota da copa do mundo, a prática de artes marciais que não melhorou a memória recente, o treinador da seleção que era da paz e os jogos de futebol do campinho e da capelinha da praça.

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