Acidente dos outros,
problemas dos outros!

José Lucas Pereira da Silva | Juripiranga PB
Havia cacos de vidros. Sirenes de ambulância. Um tumulto já se formava. A batida foi feia, envolveu dois carros, um Fiesta 2008 e um táxi. Um dos carros cruzou o sinal que estava fechado, no momento não se podia saber qual. A batida aconteceu em frente à Barbearia do Luiz, onde ele fazia a barba de um cliente, que por sorte não teve o rosto marcado também, assim como o asfalto ficou com o acontecido.

Francisco que aguardava sua vez, ao levantar para ver o que havia acontecido, não percebeu seu celular caindo atrás do banco onde estava sentado, ele não podia imaginar que aquela batida seria o indicio de um dia daqueles. Depois do acontecido e dos ânimos acalmados, Francisco cortou seu cabelo e saiu caminhando em destino a sua casa.

Mal sabia ele que faltar no trabalho e não avisar a sua esposa iria lhe trazer ainda mais problemas, já que a sua esposa tinha bastantes ciúmes do marido que era motorista. No caminho até sua casa ele notou que estava esquecendo algo:

— Mas oxe, acho que esqueci de alguma coisa na barbearia.

Francisco ficou pensando no que havia esquecido. Quando chegou na barbearia, o dono fez questão de alertá-lo:

— Homi, como é que você me sai da barbearia e esquece uma coisa dessa?

— Apois não é Luiz, quase que eu vou embora e esqueço de pagar, depois de um acidente desse, né? A pessoa fica toda desorientada.

Francisco não sabia mas havia esquecido algo mais do que pagar a Luiz pelo corte de cabelo. Ainda na rua da barbearia ele sentiu falta de outra coisa, colocou a mão no bolso e sentiu falta do celular. Ele voltou de onde estava para a barbearia, onde Luiz já estava fechando, quando viu Francisco apressou os passos e batendo na porta disse:

— Luiz! Eu esqueci meu celular aqui na barbearia.

— Rapaz, tu não sabes que se tiver aqui está guardado!

Apressado Francisco, revirou tudo que tinha pela frente, depois de um certo tempo, quando moveu uns tamboretes viu que o seu celular estava atrás do qual ele aguardava sentado sua vez. O mais rápido possível ele olhou se tinha ligação da sua mulher, quando olhou na tela do seu celular que era um Nokia c2 – fora de linha há uns anos – viu que tinha quase 70 chamadas não atendidas, mais de 60 eram de Mazé, sua esposa, e mais algumas de um número desconhecido.

Espantando com o número de ligações da esposa, Francisco fez questão de ligar de volta para saber o que havia acontecido para ela ligar tantas vezes. Ele tentou inúmeras vezes ligar para a esposa e não conseguiu, então ligou para o número desconhecido que também havia ligado para ele.

Quando finalmente ele conseguiu falar com o número desconhecido, era de um tal de Nestor. Ele falou que Mazé estava no hospital e queria que Francisco fosse o mais rápido possível para lá. Francisco correu o mais rápido possível pois queria saber do que se tratava.

Chegando lá ele foi levado para uma sala onde estava o médico, sua esposa desacordada e seu Nestor. Querendo saber do que havia acontecido, Francisco foi logo interrogando Nestor que fora testemunha do acontecido.

— Me conta logo tudo, não me poupe de nenhum dos detalhes!

— É o seguinte, sua esposa sofreu um acidente de carro, ela estava em um Fiesta 2008 e antes dela desmaiar conversamos com ela e ela contou tudo o que aconteceu. Ela falou que ligava para o senhor, mas ninguém atendia, então ela foi a procura de saber onde você estava. Ela estava em alta velocidade quando ultrapassou o sinal e não viu quando o outro carro vinha em sua direção.

Desnorteado com aquele bombardeio de informações, Francisco começou a ligar os fatos e antes de chegar a conclusão, questionou:

— Mas onde foi que aconteceu o acidente?

— Na travessia da São Cristóvão com a Gisleno Barreto, mesmo em frente da Barbearia do Luiz. Tentamos ligar para o senhor tanto do meu celular quanto do dela, mais ninguém atendeu.

Ainda sem entender o que acabara de ouvir, Francisco sentou em uma cadeira sem reação com toda a história. Seu Nestor saiu, deixando-o sozinho ali em silêncio. Até que o médico chega e quebra o silêncio não parecendo trazer boas notícias, sentou ao seu lado. Olhando nos seus olhos, o médico ofereceu seu ombro, e deu os pêsames, afirmando que ela não resistiu.

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