C093
André Cordeiro | Jaboatão dos Guararapes PE
Era sagrado, assim como é sagrado o toque das seis horas.
Farofa, molho de alho, barbecue e pimenta. Espetos, carvão, sacolinhas plásticas. Álcool. Cerveja, gelo no isopor. Esquina da rua da saudade.
No meio daquele fumaceiro todo, teu rosto se mostrava como a mais bela pintura a óleo. Tudo bem que a oleosidade da tua pele entupia minhas veias, mas eu gostava. E tua boca sorridente, sem alguns dentes me perguntava:
— Vai querer o que?
E eu, como sempre, sem ser notada devido ao horário de pico, respondia:
— O coração.
— E pra beber?
"Tua saliva e teu suor deslizando no meu corpo enquanto beijo tua boca e chupo tua língua" – pensei.
E respondi:
— Um latão.
Me alimentava e ia pra casa com fome.
No outro dia, pouco movimento, pouca renda. Um sábado fedendo a suor de fim de expediente. E mais uma oportunidade. Tua esquina. Minha rua, a da saudade... que eu sentia de tu toda noite.
— Vai querer o que?
— Você – respondi esperando uma tapa na cara
— Oxe! Tá doida é? Vai diz...
— O coração – falei
— O meu, não né?
"Tem que ser o seu. Eu não aguento mais ter que olhar teu short beira cu e não poder tirar. Arrancar essa tua blusa que nem cobre tua barriga saliente. Eu quero lamber teus dedos, teu peito, tua coxa. Quero ver tu se abrindo pra mim. E eu pincelando teu corpo que nem tu passa a manteiga no espetinho. Vou ser o álcool do teu fogo" – pensei.
E respondi com um ar de ironia.
— Se quiser... me dê o seu.
Tu riu e eu me segurei pra não te beijar. Pedi minha cerveja. Comi ali mesmo na tua frente. Quando eu me aprontava para ir embora, tu se senta do meu lado e pergunta:
— Tá satisfeita?
Eu nego.
— O que tu quer mais?
— Eu quero te comer. Peço teu coração todo dia e tu me vem com essa merda frita com farofa e ainda cobra. Eu quero teu amor. Tô vazia que nem essa rua. Eu tô apaixonada por você.
— Oxe, agora lascou. Eu desse jeito. Nem me arrumar eu me arrumo direito.
— É exatamente por isso. Teu jeito desleixado. Teu suor na testa e na blusa. Esse teu short que nem cabe em tu. Teu bigode crescido. Tudo me trouxe a boa vista. Mas tenho sentido saudade de te ter comigo. Teu coração não me alimenta. Eu quero teu amor.
(A menina que amava a dona do Espetinho da Esquina e todo dia comia um coração da sua amada.)
Farofa, molho de alho, barbecue e pimenta. Espetos, carvão, sacolinhas plásticas. Álcool. Cerveja, gelo no isopor. Esquina da rua da saudade.
No meio daquele fumaceiro todo, teu rosto se mostrava como a mais bela pintura a óleo. Tudo bem que a oleosidade da tua pele entupia minhas veias, mas eu gostava. E tua boca sorridente, sem alguns dentes me perguntava:
— Vai querer o que?
E eu, como sempre, sem ser notada devido ao horário de pico, respondia:
— O coração.
— E pra beber?
"Tua saliva e teu suor deslizando no meu corpo enquanto beijo tua boca e chupo tua língua" – pensei.
E respondi:
— Um latão.
Me alimentava e ia pra casa com fome.
No outro dia, pouco movimento, pouca renda. Um sábado fedendo a suor de fim de expediente. E mais uma oportunidade. Tua esquina. Minha rua, a da saudade... que eu sentia de tu toda noite.
— Vai querer o que?
— Você – respondi esperando uma tapa na cara
— Oxe! Tá doida é? Vai diz...
— O coração – falei
— O meu, não né?
"Tem que ser o seu. Eu não aguento mais ter que olhar teu short beira cu e não poder tirar. Arrancar essa tua blusa que nem cobre tua barriga saliente. Eu quero lamber teus dedos, teu peito, tua coxa. Quero ver tu se abrindo pra mim. E eu pincelando teu corpo que nem tu passa a manteiga no espetinho. Vou ser o álcool do teu fogo" – pensei.
E respondi com um ar de ironia.
— Se quiser... me dê o seu.
Tu riu e eu me segurei pra não te beijar. Pedi minha cerveja. Comi ali mesmo na tua frente. Quando eu me aprontava para ir embora, tu se senta do meu lado e pergunta:
— Tá satisfeita?
Eu nego.
— O que tu quer mais?
— Eu quero te comer. Peço teu coração todo dia e tu me vem com essa merda frita com farofa e ainda cobra. Eu quero teu amor. Tô vazia que nem essa rua. Eu tô apaixonada por você.
— Oxe, agora lascou. Eu desse jeito. Nem me arrumar eu me arrumo direito.
— É exatamente por isso. Teu jeito desleixado. Teu suor na testa e na blusa. Esse teu short que nem cabe em tu. Teu bigode crescido. Tudo me trouxe a boa vista. Mas tenho sentido saudade de te ter comigo. Teu coração não me alimenta. Eu quero teu amor.
(A menina que amava a dona do Espetinho da Esquina e todo dia comia um coração da sua amada.)